ARQUIVO CM - LOTUS 72, A OBRA PRIMA DE CHAPMAN


Já me atrevi a dizer em algumas oportunidades que alguns carros de corrida se tornam mais emblemáticos do que os pilotos que o conduzem. Essa máxima se confirma com o modelo que escolhido para esta matéria: o lendário Lotus 72, considerada a maior obra de arte sobre rodas que leva a assinatura do genial Colin Chapman.


O modelo 72 tinha a dura missão de substituir o lendário modelo 49

O modelo que estreou no GP da Espanha em 1970 com o austríaco Jochen Rindt e o inglês John Miles ao volante tinha uma ingrata missão: a de substituir o também lendário Lotus 49 que também tinha um histórico campeão na categoria. Porém o inicio daquele que viria a ser um dos carros mais espetaculares da história da Formula 1 não foi nada animador – muito por conta do carro levar soluções revolucionárias para a época – o carro apresentou alguns problemas que foram sanados a partir da quarta etapa daquele ano, o GP da Bélgica.

Algumas das novidades que o modelo trazia para a Formula 1 era a adoção de radiadores laterais, amortecedores e freios que ficavam adentro da carenagem proporcionaram ganhos tão significativos na aerodinâmica do modelo que outras equipes apressaram-se a copiar. Assim que os problemas iniciais do modelo foram sanados, Rindt dominou as provas seguintes vencendo 4 corridas em seqüência e despontando como o favorito ao título daquele ano.

A tragédia de Monza e o título post-morten

Rindt testando sem asas nos treinos para Monza 1970.

A Lotus sabia que tinha um diamante em mãos e tratava de lapidar sua jóia a cada corrida. Entretanto os carros da Lotus tinham uma má fama desde os anos 50, eram dotados de mecânica de ponta com muita velocidade, mas careciam de segurança para seus pilotos. O Lotus 72 infelizmente ficaria marcado por essa característica macabra.

Estado em que ficou o carro de Rindt após o acidente em Monza

Nos treinos para o GP da Itália em Monza, Jochen Rindt vinha em velocidade pela reta oposta quando sofreu uma pane nos freios do seu carro. O Lotus – que estava sem as asas para ganho de velocidade – bateu fortemente contra um guard-rail e com o impacto a dianteira se desintegrou deixando exposto o corpo do piloto. Um detalhe sinistro ainda agravou a situação: Rindt não usava um cinto de segurança de cinco pontos, mas sim um de quatro pontos, o que permitiria uma rápida saída do carro em caso de incêndio com chamas. Como a frente do carro se soltou somado ao “rodopio” causado pelo impacto, o piloto escorregou para frente enquanto foi estrangulado pelo próprio cinto de segurança. Mesmo com um atendimento rápido, Rindt foi declarado morto ainda naquele dia.

Primeira vitória do Brasil foi com “Emmo” nos EUA 1970 em Watkins Glen no modelo 72.

Abalada a equipe não disputou as corridas na Itália e no Canadá, retornando somente no GP dos Estados Unidos que era a penúltima etapa daquele ano. Era necessária somente uma vitória para a equipe ser campeã e ela veio com o terceiro piloto do time que tinha estreado naquele ano no GP da Inglaterra. Seu nome: Emerson Fittipaldi. O título garantiu ainda a coração do primeiro – e até hoje único – campeão post-morten da história da Formula 1: Jochen Rindt.

O ano de 1971, entretanto foi para esquecer: por conta principalmente de falhas nos freios a equipe campeão de 70 não faturou nenhuma vitoria na temporada enquanto via uma Tyrrell liderada por Jackie Stewart e François Cevert faturaram 7 vitorias em 11 corridas. No final um amargo quinto lugar no campeonato de construtores naquele ano.

Primeiro título do Brasil! Emerson conquistou o campeonato de 1972!

Entretanto, para 1972 tudo mudou: os principais problemas com os freios e também com a confiabilidade do modelo foram resolvidos e a equipe agora liderada por Emerson Fittipaldi iniciou uma campanha espetacular naquela temporada. No final, “Emmo” cravou seu nome na história ao se tornar o primeiro piloto brasileiro a ser campeão mundial da Formula 1, tendo a honraria de ter seu título narrado por seu pai, o “Barão” Wilson Fittipaldi. Foram 5 vitórias, nos GPs da Espanha, Bélgica, Inglaterra, Áustria e Itália.

Para 1973 Emerson era favorito novamente ao título com uma Lotus que vinha refinando seu carro durante e dominara a pré-temporada. Entretanto, Chapman havia contratado para a aquela temporada ninguém menos que Ronnie Peterson para ser companheiro de equipe do brasileiro. No final o resultado foi decepcionante: mesmo com o melhor carro e a dupla dos sonhos, a Lotus não conseguiu traduzir tamanha expectativa de domínio e mesmo com um maior numero de vitórias – o que garantiu o título de construtores para a equipe naquele ano – não conseguiu fazer um de seus pilotos campeões daquela temporada. Stewart mesmo com um equipamento inferior foi campeão – o terceiro título do escocês – porém com um sabor amargo. Seu grande amigo e companheiro de equipe François Cevert, perdera a vida em um terrível acidente no GP dos Estados Unidos, naquela que viria a ser uma das temporadas mais trágicas da história da categoria por conta do também fatal acidente de Roger Williamson na Holanda. Stewart se aposentou no final daquele ano.

Peterson a frente de Emerson: favoritismo não confirmado para 1973.

Para 1974 a equipe Lotus já sofria com o rendimento dos 72, pois ele já não se mostrava tão competitivo. Mesmo assim Peterson conseguiu três vitórias no ano em Mônaco, França e Itália terminando o campeonato em quinto enquanto a Lotus terminou na quarta colocação de construtores com 42 pontos sendo 39 conquistados pelo modelo 72 e 3 pelo modelo 76. Em 1975 a Lotus aposentou definitivamente o modelo 72, conquistando somente um pódio e somando apenas 9 pontos terminando o campeonato na sétima colocação.

Despedida do Lotus 72 em Watkins Glen 1975.

Foi um final melancólico, sim, mas é um modelo eternizado na categoria. Hoje um carro durar 5 temporadas sendo competitivo é utópico, então o feito do Lotus 72 o coloca entre os maiores carros da história da Formula 1.


Renato Moraes

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Renato Moraes

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