FORMULA 1 - McLAREN, UMA GIGANTE ADORMECIDA


Antes de iniciar o texto, saiba de uma coisa: a McLaren é parte importante da história da Fórmula 1.


E mais, a McLaren é gigante por natureza! Pois bem, sabendo disso podemos afirmar, infelizmente, que a história recente de fracassos da equipe – principalmente com a desastrosa parceria com a Honda – traz na memória de quem acompanhou a Fórmula 1 somente a partir da última década, que a equipe não é e nunca será  tudo quanto seu grandioso nome sugere. Pois bem, depois da vitória de Daniel Ricciardo em Monza e agora com a pole-position de Lando Norris em Sochi (sim em condições de pista difíceis!), podemos afirmar que a outrora poderosa McLaren é sem dúvidas uma gigante adormecida que começou a despertar!

É muito importante afirmar que na história de grande sucesso que a equipe possui, ela viveu sempre momentos de muita glória, mas também de grandes dificuldades. Entretanto em vários momentos de sua história ela se portou como uma verdadeira fênix, renascendo praticamente das cinzas e voltando com grande força e competitividade aos grandes prêmios pelo mundo afora.

McLaren MP42 1984

Bruce McLaren fundou a equipe em 1969 e desde então pilotos campeões como Denny Hulme, Emerson Fittipaldi, James Hunt, Alain Prost, Ayrton Senna, Mika Hakkinen, Fernando Alonso, Jenson Button e Lewis Hamilton passaram pelo cockpit da esquadra de Woking, pilotos estes que estão gravados para sempre na história da categoria. Porém nos últimos anos após mudanças internas de comando e projetos duvidosos que teimaram em ser mantidos pela direção da equipe, nos surpreendemos principalmente de 2015 a 2017 com a grande incapacidade de conseguir desempenho que a equipe passou com uma parceria com a Honda – que remontava a uma outrora era de ouro entre 1988 a 1991 – que acabou terminando de forma abrupta e dolorosa para ambos os lados em 2017. Quem não se lembra, por exemplo, de Fernando Alonso no Japão 2015 gritando no rádio para a equipe que tinha um motor de GP2 em seu carro, em pleno Japão no circuito de Suzuka que é de propriedade da Honda!

Porém esta não fora a única oportunidade que a McLaren sofreu com desempenho. Depois de conquistar 2 títulos em três anos (1975 com Emerson Fittipaldi e 1977 com James Hunt), a equipe não conseguiu um novo título mundial até 1984 quando Niki Lauda após venceu o mundial de pilotos após a equipe realizar a troca de motores pela primeira vez em sua história optando então pelos TAG Turbo (Porsche) no lugar dos tradicionais Ford-Cosworth. Aqui se iniciou uma era de ouro para a equipe que ainda utilizou neste período os motores Honda e que permitiu um domínio da Fórmula 1 que perdurou até 1991. Em 1992, entretanto, Ayrton Senna já começava a sofrer com um carro que não era ruim, mas dependia muito mais de sua habilidade técnica e arrojo para obter bons resultados. A partir de 1993 a equipe novamente troca de motor para os Cosworth de segunda linha, uma vez que a Benetton era a equipe que recebia o apoio de fábrica da Ford, mas já não tinha um conjunto que dava possibilidade da equipe ser campeã e novamente nesta temporada contou com atuações de gala do  brasileiro para vencer corridas, mas a McLaren não era páreo frente às poderosas Williams-Renault (que falaremos a respeito em outra matéria) e com a nova força ascendente da categoria, a Benetton.

Em 1994 com a saída do brasileiro para a Williams a McLaren então se uniu a Peugeot que vinha de duas vitórias nas 24 de Le-Mans com o magnífico 905. O projeto do motor 3,5 V10 para a Fórmula 1 era baseado no projeto de Sarthe onde o carro atingiu em 1992 a inacreditável marca de 405 km/h na reta Mulsanne. Entretanto a expectativa se mostrou uma decepção total. 17 abandonos somados de seus pilotos na temporada apesar de ter conquistado dois segundos lugares na temporada e um quarto lugar com menos da metade dos pontos conquistados pela Williams foram duros para uma equipe que até três anos antes dominava a Fórmula 1. Ron Dennis então decidiu trocar os motores franceses pelos motores da alemã Mercedes-Benz que até então equipava a equipe Sauber. O início da parceria se mostrou muito difícil com a equipe terminando o ano com mais dois pódios, mas contou com 15 abandonos somados no ano e ficando distante mais de 100 pontos da Benetton naquela temporada.

McLaren MP49 1994

Em 1996 a equipe mostrou uma melhora conquistando 6 pódios e vários top-6 na temporada o que garantiram o quarto lugar no campeonato mas ainda muito longe das rivais principalmente da Williams que dominava a Fórmula 1 então. Neste ano a McLaren então fez uma troca de impacto deixando de ser patrocinada pela Marlboro e sendo a partir de então apoiada pela marca West. Foram 26 anos de parceria que trouxe vários títulos mundiais.

A temporada de 1997 é uma temporada muito parecida com a de 2021 em termos de mudanças de regulamento: para 1998 estavam previstos grandes ajustes nos carros com uma distância entre eixos menor, largura entre as rodas reduzida e sulcos nos pneus. A McLaren que já vinha refinando a sua parceria com a Mercedes conquistou nesse ano 3 vitórias, duas com Coulthard e uma com Hakkinen no famoso GP de Jerez de 1997. A equipe se colocava no final da temporada como uma das candidatas ao título da temporada seguinte, o que se comprovou com o bi campeonato de Hakkinen em 98-99. Até 2003 a equipe sempre se mostrou competitiva mesmo com a aposentadoria de Hakkinen, mas com a chegada de um ótimo Kimi Raikkonen a equipe sempre se manteve na disputa contra uma poderosa Ferrari que dominou o quinquênio de 2000-2004.

McLaren MP419 2004

Em 2004 a equipe enfrentou sérios problemas com o MP4/19 que até o GP da Europa realizado em Nurburgring sofreu 8 abandonos. Depois de uma pausa para férias e muitos testes liderados pelas brilhantes mentes de Woking, Peter Prodromou, Andrea Seidl e Adrian Newey, a equipe lançou a versão MP4/19B que chegou a vencer o GP da Bélgica em SPA com Raikkonen.

Entre 2005-2012 a equipe ainda conquistou um título com Lewis Hamilton que poderiam ser dois caso o talentoso, mas difícil Fernando Alonso em 2007 tivesse trabalhado em equipe e deixasse de lado o seu ego na briga interna que teve com o estreante Hamilton o que culminou com um improvável título de Raikkonen com uma inferior Ferrari. Entre 2009-2012 a equipe ainda se manteve competitiva e postulante ao título, agora com dois pilotos campeões mundiais com Hamilton e Button formando uma das mais fortes duplas do grid. O último grande ano da equipe foi em 2012 quando conquistou 7 vitórias e ficou na terceira posição do campeonato contra a dominante Red Bull e Sebastian Vettel.

Em 2013 a equipe já dava mostra de decadência quando depois de uma temporada com vitórias ficou sem pódio algum. O último pódio da equipe na década foi na Austrália em 2014 com Kevin Magnussen (que enganou bem a todos com esse pódio em sua primeira corrida) chegando à segunda colocação e Jenson Button em terceiro. No final da temporada, porém, uma mostra do déficit técnico da equipe ficou escancarada quando ficou mais de 500 pontos atrás da Red Bull no campeonato de Construtores.

McLaren MP430 2015

Como já disse no início do texto, os anos de 2015 a 2017 foram os piores da história da equipe campeã. A troca pelos motores Renault em 2018 amenizou um pouco o sofrimento que a equipe vinha passando, mas não foi uma mudança da água para o vinha como esperado. A Renault se mostrou com muitas dificuldades em trazer desempenho para seu motor a ponto de anos depois desfazer da parceria de sucesso com a Red Bull que clamava por um motor mais competitivo e que fez duras críticas públicas à fabricante francesa. A  McLaren se viu sem opções no momento para motores e mesmo sabendo que o Renault não a levaria para o alto do pódio, fez a opção que seria melhor no momento contra a cambaleante Honda. É importante frisar que nessa parceria com a fabricante japonesa a McLaren errou muito, um tanto por conta de um conceito de “garrafa de Coca-Cola” mais estreita que os demais carros que deixou a traseira muito apertada para acomodar o motor e o câmbio. Com um conceito muito complicado somado aos complexos motores híbridos as decisões em Woking não foram as melhores para a parceria.

McLaren MCL35M

E agora chegamos enfim a 2021, uma temporada onde uma parceria que durou até 2014 se firmou novamente. A primeira união com a Mercedes que durou de 1996 a 2014 contou inclusive com participação da montadora alemã nas ações da equipe durante este tempo, que se desfez justamente quando a Mercedes em conjunto com Niki Lauda, Toto Wolff e o grupo Ambaar trouxeram a marca das três pontas de volta à Fórmula 1. Entretanto depois de anos separadas as duas marcas se uniram novamente e o resultado disso já é visivelmente melhor: 1 vitória em Monza e mais 4 pódios mostram que a equipe enfim se reencontrou com o caminho das vitórias e a mudança de regulamento a coloca com uma das grandes esperanças para o título da Fórmula 1 de 2022.

 

Renato Moraes

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Renato Moraes

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