A Fórmula 1 como esporte sempre foi e será a “nata”, ou seja, a elite do esporte mundial. Junto com a NBA, NFL, Champions League, Olimpíadas e Copa do Mundo, ela é parte integrante dos eventos esportivos mais importantes do planeta. Mas fazer parte desse seleto e glorioso grupo, traz também uma necessidade imensa de fazer frente as expectativas gigantescas que a sociedade moderna tanto clama.
A categoria, acredito ainda que de forma inesperada, viveu uma temporada intensa e cheia de emoção como pouco se viu em sua história. Uma temporada marcada por lances dentro e fora das pistas que tiveram um desfecho com ares dramáticos que já entraram para a história.
O Sir inglês contra o MadMax holandês!
Lewis Hamilton, hepta campeão da categoria, o melhor piloto do grid atual em seu auge contra o impetuoso e talentoso Max Verstappen, cheio de vontade e com “sangue nos olhos” em busca de afirmação. Estes eram os atores da mais insana temporada das últimas décadas da categoria.

Hamilton com Malala. O lado ativista do piloto é muito forte dentro e fora das pistas. Reprodução
Hamilton com toda a educação e parcimônia típica inglesa, vem cada vez se tornando mais que um piloto de carros de corrida. A cada temporada ele vem se mostrando um esportista que busca muito mais que respeito por sua raça, mas sim também busca oportunidades, respeito, representatividade.
O piloto de forma acertada usa a plataforma mundial que é a Fórmula 1 para mostrar a sociedade como um todo a necessidade de um mundo mais igualitário. E em uma categoria onde filhos de bilionários como Nicolas Latifi e Nikita Mazepin, onde seus pais derramam “rios de dinheiro” para que seus filhos possam correr, Hamilton sabe que dificilmente muitos talentos mundo afora não terão chance de chegar ao ápice que é a Fórmula 1 muito por conta de um mundo que se cerca cada vez mais da insana necessidade do dinheiro dos magnatas.
Max Verstappen, jovem, cheio de atitude e com uma velocidade insana. Filho do ex-piloto (e mediano) Jos Verstappen, não podemos dizer que teve dificuldades em sua carreira. Usou do famoso sobrenome em um país carente de talentos e mostrando velocidade desde cedo, trilhou um caminho natural de evolução no automobilismo. Sempre impressionou por onde passou apesar de ter conquistado somente um título de Fórmula 3 antes da conquista do final de semana.

Verstappen é muito criticado por suas atitudes fora das pistas, mas amado por muitos dentro delas. Reprodução
Chegou à Fórmula 1 ainda em 2015, na antiga Toro Rosso (hoje Alpha Tauri) para ser parceiro de Carlos Sainz. Parte integrante do capengo programa de jovens pilotos da Red Bull, que já tinha “triturado” nomes como Jaime Alguersuari, Sebastian Buemi e Jean-Eric Vergne, ele se mostrou o diamante a ser lapidado pela Red Bull que sofria com uma Mercedes-Benz dominante na era hibrida.
Max se mostrou rápido e polêmico desde o início, a começar pela precocidade de sua estreia aos 17 anos em um momento que já era discutida uma idade mínima para se inscrever para uma temporada no mundial. Fato é que Max foi o estopim de uma discussão que se iniciou anos antes, com o “longínquo” Sergey Sirotikin que pela Sauber também quase estrou pela categoria aos 17 anos.
Verstappen foi se desenvolvendo e se mostrando um piloto tremendamente combativo em pista. Ganhava cada vez mais “inimigos” por sua forma de pilotar. Entretanto os fãs viam nele uma força da natureza, um piloto novato que estava ali para incomodar os grandes, algo visto no passado com Gilles Villeneuve e Ayrton Senna. Aproveitando-se da oportunidade que surgira na Red Bull, no GP da Espanha de 2016 venceu sua primeira prova na categoria se tornando o piloto mais novo a vencer uma corrida.
E de lá para cá o piloto passou a odiado por muitos por seu tremendo orgulho e forma como tratava os rivais, mas também amado por milhões por sua paixão nas pistas. Com o passar dos anos e vitórias sendo acumuladas, Max foi superando os obstáculos e o primeiro título mundial já não era uma expectativa, mas sim uma realidade.
#TeamHamilton X #TeamVerstappen
E chegamos novamente em 2021. Colocados frente a frente tínhamos um campeão que além de ser um dos melhores da história, levanta a bandeira de causas sociais e tem milhões de fãs incondicionais mundo afora. Do outro lado temos um jovem, impetuoso e talentoso piloto, amado por milhões por sua forma de pilotar que remetia a grandes ídolos do passado. A Fórmula 1 se viu dividida neste momento em dois times: #teamhamilton X #teamverstappen.
We asked sports stars, entertainers, and personalities from around the world to answer one simple question...
— Formula 1 (@F1) December 11, 2021
Max or Lewis? ????#AbuDhabiGP ???????? #F1 pic.twitter.com/sFjG3M2Ymn
Artistas e esportistas deram sua opnião sobre quem levaria o mundial. Reprodução
As redes sociais durante o ano foram inundadas de postagens, matérias, comparativos entre outros sobre a lendária luta pelo título de 2021. A Liberty Media como uma boa empresa americana, sabia que enfim tinha nas mãos um produto digno de show. No meio disso tudo, uma perdida FIA que não estava preparada para lidar com tamanho estrondo que foi esta temporada.
A vitória de Verstappen neste final de semana, expôs a categoria a algo impensável anos atrás. Com uma dominância tremenda dos alemães da Mercedes, a audiência mundial vinha em queda em várias praças, mas com uma temporada atípica a categoria gozou de um aumento exponencial em todas as plataformas o que deverá servir como base para os próximos anos em muitos sentidos. A Liberty Media deverá prezar muito mais pelo show que o esporte tem capacidade de proporcionar em detrimento do “politicamente correto”.
Muitos acharam a decisão de Michael Masi absurda, arbitrária e até nas palavras de Hamilton, manipulada. Mas Masi sabia que interesses maiores estavam por trás daquela volta final e isso não leva em consideração que Hamilton estava em primeiro naquele momento da prova. Poderia ser o inverso! Poderia ser Lewis com pneus macios no lugar de Verstappen em primeiro. Mas a decisão sobre dar a oportunidade aos melhores pilotos da década, de lutarem entre si em uma insana volta final foi algo que a Liberty Media não podia deixar de escapar.
Foi um show! Foi justo? Talvez não, mas é inegável que a temporada de 2021 ficará marcada para sempre como uma das melhores da história da Fórmula 1.
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