FÓRMULA 1 - VELHOS TERMOS, NOVOS SIGNIFICADOS
Nesta semana uma grande polêmica foi formada em torno de uma entrevista de Nelson Piquet para um canal do YouTube em novembro passado, no qual ele se refere a Lewis Hamilton como
Conforme noticiamos aqui, a Fórmula 1 e a Mercedes, equipe no qual Hamilton corre se pronunciaram prontamente contra as declarações do tricampeão e na sequência, FIA e diversos pilotos também saíram em defesa do piloto britânico.
É verdade e isto não poderá nunca ser apagado: Piquet usou um termo racista, porém será que o termo teve conotação racista ou foi apenas um vício de linguagem?
Não estou com isto advogando a favor de Piquet, pelo contrário, já que o canudo de jornalista não me habilita a isto, mas, como profissional de comunicação me sinto no dever de apresentar meu ponto de vista, como apresento abaixo.
Sou de uma geração onde o bullying existia, é fato, mas guardadas as devidas proporções, o formato de cada pessoa era basicamente a forma de o identificar.
Onde eu estudava eu era o "narina", o que de cara já me entregava como narigudo. Havia o "ferrugem", o "bola", o "cabeça", o "pança" e também o "neguinho", além diversos outros apelidos que inicialmente, falo por mim inclusive, incomodava, mas não tornou ninguém inimigo, pelo contrário, entre meu círculo de amigos da época da escola e infância, mantemos a amizade e o carinho um pelo outro.
Em minhas idas e vindas ao Rio de Janeiro me acostumei a ouvir a palavra "neguinho" se referindo a uma pessoa, onde em muitos destes casos, tratava-se de pessoas, que apesar do termo ter a conotação racista, não tratava de raça, mas sim uma forma de citar uma pessoa em um dado assunto, sendo muitos inclusive de cor branca.
Não estou dizendo com isto que Piquet foi ou não foi racista, longe disso, o que quero alertar é ao fato dele talvez ter feito uso de um termo não no sentido de ofender Hamilton, tal como ele chama Max Verstappen de o "outro," no momento onde ele fala um palavrão ao final de sua análise sobre o ocorrido entre os dois pilotos no GP de Silverstone do ano passado.
Devemos observar se as atitudes de Piquet foram racistas em outros momentos de sua brilhante história e inclusive aguardar o seu pronunciamento sobre o assunto, pois como em tudo na vida, uma história sempre tem dois lados.
Reafirmo aqui a minha posição e a posição do site de ser contra qualquer conduta ou ato racista, onde não apenas apoiamos e defendemos as causas levantadas por Hamilton, como também admiramos sua luta e atuamos no sentido de mitigar qualquer tipo de conduta discriminatória - não damos espaço neste site para este tipo de atitude.
É bem verdade que Piquet é uma pessoa polêmica, que já teve diversos embates com a imprensa e talvez por este motivo, seja mais fácil apontar o dedo a ele, como se ele fosse realmente culpado pelo ato, mas o histórico dele neste sentido, em nada o liga a figura de uma pessoa racista, algo que deve ser também levado em consideração neste momento.
O que devemos ter em mente é: o mundo mudou e hoje devemos ser muito comedidos em nossas falas, sob o risco de sermos acusados e punidos por aquilo que falamos, onde muitas vezes dizemos efetivamente algo, que não reflete aquilo que pensamos, apesar do uso de alguns termos que podem dar a impressão do contrário.
E por fim, assim como muitas empresas se dizem comprometidas com a agenda ESG do planeta e no fundo continuam poluindo e dando de ombros para o meio ambiente, há muitas pessoas que se dizem comprometidas com a causa da inserção social e do anti-racismo apenas para se auto-promover - temos também que ficar atentos a isto, o que pode ter sido o ato motivador para fazer com que um vídeo de novembro do ano passado, se torne uma polêmica sete meses depois.
Muitas vezes colocamos nossos heróis em um patamar de perfeição e achamos que eles não erram; este pode ser o motivo que me fez escrever este texto - não quero julgar Nelson Piquet e nem devo, onde quero tão somente que isto seja esclarecido, sabendo que não tenho dúvida que minha decepção será imensa caso se comprove que ele agiu deliberadamente como um racista, algo que acho que não.
Foto: Divulgação
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Autor
Márcio de Luca
